“Na saudade há a certeza de um reencontro”.
A geografia humana do comércio mossoroense perdeu a figura sem jaça Amaury Fernandes de Queiroz, a 21 de dezembro de 1995. Nasceu em Pau dos Ferros a 22.02.1936, na fazenda “Cantinho”. Era filho de Vicente Fernandez de Queiroz e Benta de Souza Rêgo.
Detentor de nobreza de quatro costados, era tetraneto do revolucionário Agostinho Pinto de Queiroz, depois Agostinho de Queiroz, depois Agostinho Fernandes de Queiroz (Revolução Republicana de 1817), pelo combate ao homônimo caudilhesco de Pinto Madeira, que ameaçara as fronteiras potiguares.
O coronel Agostinho (Pinto) Fernandes de Queiroz (1780-1866) foi presença marcante e saliente no movimento pré-independência (1817), que visava libertar o Brasil do absolutismo português, tomando parte ativa na instalação do governo republicano de Portalegre –RN, tendo por isso padecido longos sofrimentos nos cárceres da Bahia, com centenas de companheiros, além do que foram fuzilados, como Frei Miguelinho e muitos outros.
Nas sequência genealógica, descendia o biografado, pelo lado materno, de Luiz do Rêgo Barreto, governador da Capitania de Pernambuco, tronco dos muitos Rêgos que habitam os sertões nordestinos.
Menino criado nos banguês de cana-de-açúcar da fazenda “Cantinho”, desde cedo demonstrou profunda competência no ramo comercial, tendo, ainda adolescente, trabalhado na firma Alfredo Fernandes, filial da cidade de Pau dos Ferros. Sentindo que alargavam-se os seus horizontes, passou a residir em Mossoró, onde passou a trabalhar na firma Tertuliano Fernandes, que à época tinha como diretor-comercial o Sr. Francisco de Queiroz Porto (o Jatobá de Ererê).
O trabalho desenvolvido por Amury caracterizava-se pela preocupação de um pensar exato de cientista (modus mentalis) emoldurando rigorosamente a realidade, o que proporcionava-lhe resultados alvissareiros.
Como funcionário da “Casa dos Ferros”, do Sr. Antônio Câncio de Souza, galgou vários postos, chegando a gerente. Com o falecimento do seu patrão, assume o controle acionário daquela casa comercial, elevando-a aos patamares do progresso.
Como trabalhador compulsivo, era exemplo típico dos felizardos intocados por angústias existenciais. No seu exemplo de vida encontramos a certeza de que o trabalho tem sentido porque corresponde a valores na vida das pessoas.
Homem notável pela franqueza das palavras e pela lealdade das atitudes. A sua travessia pela terra foi fecunda em exemplos, em discrição e em dignidade. Tinha princípios sólidos e ideias firmes, ideias alicerçadas na experiência. Era superior pelo feitio moral, pela formação e pelo conjunto dos atributos e das qualidades de caráter, além de hábil com as palavras e seguro na formulação de raciocínios.
A Bíblia nos ensina que sofrimento purifica a alma. Partindo desse princípio, pode-se afirmar que Amaury encontra-se numa dimensão espiritual repleta de luz divina. Acompanhei, com pungência, a sua “via crucis”. Em seu olhar encontrava a expressão de uma noite de insônia, provocada pela dor, tinha uma extensão de eternidade.
Se houvesse um instrumento para registrar o que passasse pela cabeça de um homem acossado por cruel doença, ele não poderia nunca conter todos os seus sentimentos, todas as suas ansiedades, todas as suas interrogações.
Vi-o morrendo, entregando-se aos poucos, reagindo com uma coragem admirável ao mal que lhe roia a vida. Teve em Salete (sua esposa) a companheira inseparável no amor, no amparo e na abnegação – arraigados na fé com que enfrentava a dura realidade.
Deixa um grande legado aos filhos – legado de trabalho e de luta por um ideal de vida, esteado em tenacidade e perseverança na busca incontida por melhores dias.
Era casado com sua prima materna Salete Fernandes de Queiroz, com quem teve os filhos Amaury Fernandes de Queiroz Jr., Marcos Antônio F. de Queiroz, Lucas Noberto F. de Queiroz, Henrique Eduardo F. de Queiroz(falecido) e Alexandre Magno F. de Queiroz.
Por Marcos Pinto – historiador, advogado e membro da Academia Apodiense de Letras.
*Francisco Verissimo - Blog Fatos de Mossoró - Portal Fatos do RN
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