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domingo, 26 de julho de 2015

Do provinciano ao universal

A história da evolução cultural do homem, em seu processo interativo com o habitat, apresenta rústicas características comportamentais, fixadas ao longo do tempo, na índole e na alma, tornando-o inculto ante a árdua luta pela sobrevivência. 

Compilando-se os fatores evolutivos que incidiram a sociedade, nos últimos 60 anos, verifica-se quão nostálgica é a postura do homem provinciano, nascido e criado nos campos e nas cidades interioranas. É calado, meio desconfiado, sem capacidade(algumas vezes) para discernimento aos truques que lhe são asquerosamente aplicadas pelo chamado “homem universal ou homem da metrópole”. 

Chamam de matuto ao provinciano, esquecendo-se, muitos, de que é dele que sai a voz candente, representativa das multidões silenciosas.  O seu lado sorumbático reflete a solidão remanescente do sangue camponês a correr em suas veias. 

Os homens das grandes cidades, em sua maioria, pensam e acham, erroneamente, que o homem oriundo da zona rural ou de pequenas cidades, é m ser sem outro direito que o de trabalhar e retirar o chapéu da cabeça, em gesto humilde e delicado de submissão aos senhores, em primeiro lugar, e depois aos santos. A humildade sempre presente em seus atos e palavras obedece a sentimentos nativos polidos pela disciplina doméstica. 

A universalidade dominante na metrópole evidencia amálgamas de contraditórios reflexos, explodindo em terríveis manifestações de ódio e violência. Relembremos o provincianismo presentes nas antigas eleições, mostrando os embates saudáveis dos velhos tempos. Os que disputavam o poder de mando àquela época, de ambos os lados, nunca esqueceram de acatar os predicados e as virtudes alheias na cortesia recíproca de homens igualados pelo mesmo nível de educação. 

No contexto do direcionamento da prole familiar, cumpria-se, com rigor, o princípio tradicional, que representava uma norma de conduta. Nas reuniões familiares d’antanho os assuntos se apresentavam. Já censurados pela norma do bom senso. 

Há uma premissa no contexto sociológico, que parte do princípio de que “O UNIVERSAL É APENAS UM AVANÇO DAS FORÇAS DO PROVINCIANO”. As pessoas que crescem dentro dos padrões inflexíveis, dimensionados pela ortodoxia social ainda perceptível, apresentam maior adaptabilidade aos ditames morais que regem a sociedade como um todo. Resina-se na mudez desapontadora das grandes atribuições do espírito. 

O materialismo dialético reinante explode (nos homens ditos civilizados) o subconsciente atávico, induzindo-o a uma reação tumultuante, com desfecho na violência dos seus influxos instintivos. o processo interativo vivido nas grandes cidades, conduzem a uma indesejável convivência com os processos degenerativos da violência, infiltrados em todos os segmentos sociais. 

Num processo antagônico à azáfama atual, com os engarrafamentos atuais – estonteantes e irritadiços, trago à lume o Código de Posturas de Mossoró, evidenciado pelo jornal “O Mossoroense”, edição de 17.09.1908, dando ênfase à necessidade de preservação do silêncio harmonioso, ocasião em que evoca o art. 54 que determina: “COMBOIOS OU TROPAS DE ANIMAIS NÃO PODERÃO ENTRAR E SAIR NESTA CIDADE COM CHOCALHOS DESTAMPADOS NOS ANIMAIS”. A seguir advertência do Jornal nos seguintes termos: “Ainda ontem nos chamou a atenção a passagem pelo beco, formado pelas nossas oficinas e a Pharmácia Rosado, de um comboio, cujos animais traziam os chocalhos num repique infernal. E o Fiscal?... “

É por demais expressiva a diferença, no que diz respeito ao bem estar do próximo naqueles idos tempos, para os dias atuais. Hoje, deparamo-nos diuturnamente com insolentes adolescentes, num frenético ritual de letal exibicionismo sonoro – provocante e irritadiço. 

Há que se admitir que o silêncio impõe harmonia, ao contrário do barulho  - que atropela a formulação de fantásticas ideias e inibe a capacidade de completo discernimento da realidade vivida. DEUS está presente no silêncio e na reflexão de cada um. 


Mossoró, 20.07.1997.
Por Marcos Pinto - historiador e advogado