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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Forjaram fatos na história de Mossoró

Tenho encontrado, não raro, fatos descritos por alguns historiadores e pesquisadores desta “Província”, completamente divorciados da realidade geradora da história. Em uns percebe-se a intenção deliberada de ocultar algum libelo ou vício que recai sobre um protagonista; em outros a evidência em projetar algum parente ou amigo, aureolados pela prática de um ato heroico nunca praticado. 

Cito como exemplo a versão criada pelo clã Rosado e remuneradamente adotado por Câmara Cascudo, Edgar Barbosa e Raimundo Nonato da Silva, de que a viagem em que perecera Dix-Sept Rosado tinha como objetivo ultimar empréstimo de trinta milhões de cruzeiros com os quais ampliaria os serviços de abastecimento d’água de Natal, Mossoró e Caicó. 

O renomado João Maria Furtado, em sua inexpugnável obra intitulada “Vertentes”, publicada no Rio de Janeiro em 1976, pela gráfica Olímpica, contesta esta deslava versão, com argumento eivados de rasgos de veracidade, cuja teste contestatória constada no livro “A(Re)Invenção do Lugar – Os Rosados e o “País de Mossoró” do prof. Dr. José Lacerda Alves Felipe, com o seguinte teor: “Outras vozes davam objetivo diferente e menos mitológico à referida viagem, pois seu sentido real, estava relacionado à resolução de problemas criados com a partilha dos cargos estaduais entre lideranças e os partidos que elegeram Dix-Sept e que compuseram, portanto a “Aliança Democrática”, na qual Café Filho, julgando-se Presidente da República, nomeando apenas seus correligionários para cargos federais do Estado”. 

Em que pese os relevantes serviços prestado à cultura, pelo prof. Ving-um Rosado, oberva-se a intenção deste em fixar o falecido irmão Dix-Sept como herói cívico, como mártir que se sacrificou pela resolução do problema de água em Mossoró e no RN, afirmando que a “água era a própria história dos Rosado a começar do velho patriarca” (vi livro de sua autoria “O Protocolo de Mossoró:...Coleção Mossoroense – 1998). 

Quando Ving-um Rosado foi eleito prefeito de Mossoró em 1952 teve como uma das primeiras metas adotada a contratação dos historiadores Câmara Cascudo e Edgar Barbosa para, sob o “incentivo” de larga remuneração, utilizarem seus conhecidos naipes literários para traçarem uma espécie de culto a personalidade, atribuindo conotações heroico/históricas às pessoas de Jerônimo Rosado, Dix-Sept Rosado e Ana Floriano, respectivamente pai e irmão de Vingt, e bisavó paterna da esposa de Vingt. 

Assiste razão a Juarez Távora quando afirma que “O memorialista conta o que quer, o historiador deve contar o que sabe”. A história deve ser contada a partir de documentos oficiais, e estes sepultam definitivamente a versão de que Ana Floriano comandou o famoso Motim das Mulheres, se não vejamos: em ofício datado de 4 de setembro de 1875, o então Juiz de Direito de Mossoró, Bel. José Antônio Rodrigues, comunica ao Presidente da Província do RN, dente outros itens que: “Presenciaria esta cidade a farsa mais ridícula... de um grupo de 50 a 100 mulheres mal aconselhadas por seus maridos e parente, e capitaneadas por D. Maria Filgueira, mulher de Antônio Filgueira Secundes, D. Joaquina de Tal, mulher do camarista Silvério Ciríaco de Souza, e D. Ana de Tal, mãe de Jeremias da Rocha Nogueira... (vide livro Escóssia – 2ª Edição – pags 130-132 – Coleção Mossoroense – Vol. 989). D. Maria Filgueira era a mãe do Major Romão Filgueira. 

O pesquisador/historiadora Lauro da Escócia fez, ainda, os seguintes enxertos históricos inexplicáveis: “Que o Motim das Mulheres era composto por cerca de 300 mulheres; - que Ana Floriano se armara com um espeto de ferro e postara-se na Agência Consular portuguesa em Mossoró, em uma escada, defendendo o filho Jeremias, José Damião e Ricardo Vieira do Couto, no atentado praticado por Rafael Arcanjo da Fonseca e outros, no dia 1º de janeiro de 1875. Que Ana teria dito: “Quem subir a escada morre na ponta deste espero!”. 

Vejamos o que diz o sobrinho-neto de Lauro, o jornalista Cid Augusto, em seu livro acima citado – pág. 153: “Contrariando a versão mencionada anteriormente, Jeremias presta, em seu texto, solidariedade a José Damião e ao Agente Consular Frederico Antônio Carvalho, o que pode significar que ele e Ricardo Vieira do Couto não estavam presentes no local do acontecimento, a Agência Consular Portuguesa. Em momento algum Jeremias se refere à Ana Floriano”. Jeremias faleceu em 1881. 

Há que ressaltar que o próprio Cid Augusto, homem de reconhecido talento literário, procura, de forma incontida e insubsistente, infundir a ideia de que Jeremias da Rocha Nogueira (sem ascendente) encarnara a ideia abolicionista. Todos os documentos são unânimes na configuração de que Mossoró teve desencadeado o movimento libertário somente em janeiro de 1883, culminando em 30 de setembro do mesmo ano. O resto é coisa para ser contada no “arco da velha” ou na Povoa do Varzim”. 

Por Marcos Pinto – historiador e advogado apodiense. 

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